quarta-feira, 29 de setembro de 2010
SEMANA PAUL GÉRALDY III
SEMANA PAUL GÉRALDY II
¿Qué fue lo que dijiste
Y sé perfectamente que bien me has comprendido.
¿Nuestros dos corazones? Hay tan sólo "tú y yo",
¿Nos sentimos calmados?... Esto es muy natural,
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
SEMANA PAUL GÉRALDY I
sábado, 25 de setembro de 2010
SONETO DE ANIVERSÁRIO - Vinícius de Moraes
ANIVERSÁRIO - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
SEMANA EDUARDO GALEANO VI
Escavando o cemitério dos índios, uma arqueóloga encontrou este par de esqueletos de amor atados. Há oito mil anos que os amantes de Zumpa cometeram a irreverência de morrer sem se desprender, e qualquer um que se aproxime pode ver que a morte não lhe provoca a menor preocupação.
É surpreendente sua esplêndida formosura, tratando-se de ossos tão feios no meio de tão feio deserto, pura aridez e cinzentice; e mais surpreendente é sua modéstia. Estes amantes, adormecidos no vento, parecem não ter percebido que eles têm mais mistério e grandeza que as pirâmides de Teotihuacán ou o santuário de Machu Picchu ou as cataratas do Iguaçu.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
SEMANA EDUARDO GALEANO V
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
SEMANA EDUARDO GALEANO IV
Como todo dia, você leva seu filho até a escola.
Como todo dia.
E então, o vê. Na esquina, refletido numa poça, contra a calçada; e quase é atropelada por um caminhão.
Depois você vai para o trabalho. E o vê novamente, na janela de um botequim medonho, e o vê na multidão que a boca do metrô devora e vomita.
Ao anoitecer, seu marido passa para buscá-la. E no caminho de casa vão os dois, calados, respirando o veneno do ar, quando você torna a vê-lo no turbilhão das ruas: esse corpo, essa cara que sem palavras pergunta e chama.
E desde então você o vê com os olhos abertos, em tudo que olha, e o vê com os olhos fechados, em tudo que pensa; e o toca com seus olhos.
Este homem vem de algum lugar que não é este lugar e de algum tempo que não é este tempo. Você, mãe de, mulher de, é a única que o vê, a única que pode vê-lo.
Você já não tem mais fome de ninguém, fome de nada, mas cada vez que ele aparece e se desvanece você sente uma irremediável necessidade de rir e chorar os risos e os prantos que engoliu ao longo de tantos anos, risos perigosos, prantos proibidos, segredos escondidos em quem sabe que cantos de seus cantos.
E quando chega a noite, enquanto seu marido dorme, você vira de costas e sonha que desperta.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
SEMANA EDUARDO GALEANO III
Janela sobre uma mulher/1
Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero.
Janela sobre uma mulher/2
A outra chave não gira na porta da rua.
A outra voz, cômica, desafinada, não canta no chuveiro.
No chão do banheiro não há marcas de outros pés molhados.
Nenhum cheiro quente vem da cozinha.
Uma maçã meio comida, marcada por outros dentes, começa a apodrecer em cima da mesa.
Um cigarro meio fumado, lagarta de cinza morta, tinge a beira do cinzeiro.
Uma água suja chove dentro de mim.
Janela sobre uma mulher/3
Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir.
Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
SEMANA EDUARDO GALEANO II
Desnúdeme.
Arránqueme, señora, las dudas.
Desdúdeme.
Arránqueme, señora, las ropas y las dudas.
Desnúdeme.
Desdúdeme.
SEMANA EDUARDO GALEANO I
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.
Eles são dois por engano. A noite corrige.
Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita,a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
JAIME SABINES
Tu cuerpo está a mi lado
fácil, dulce, callado.
Tu cabeza en mi pecho se arrepiente
con los ojos cerrados
y yo te miro y fumo
y acaricio tu pelo enamorado.
Esta mortal ternura con que callo
te está abrazando a ti mientras yo tengo
inmóviles mis brazos.
Miro mi cuerpo,
el muslo en que descansa tu cansancio,
tu blando seno oculto y apretado
y el bajo y suave respirar de tu vientre
sin mis labios.
Te digo a media voz
cosas que invento a cada rato
y me pongo de veras triste y solo
y te beso como si fueras tu retrato.
Tú, sin hablar,
me miras y te aprietas a mí y haces tu llanto
sin lágrimas, sin ojos, sin espanto.
Y yo vuelvo a fumar,
mientras las cosas
se ponen a escuchar lo que no hablamos.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
ANJO MAU - Adélia Prado
*A duração do dia, Adélia Prado, RJ, Editora Record, 2010.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
PRIMAVERA ANTECIPADA EM MEU JARDIM
terça-feira, 14 de setembro de 2010
DESPEDIDA - Martha Medeiros
A DOR QUE DÓI MAIS - Martha Medeiros
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
DETALHES - Roberto Carlos
MICHAEL - Vera Vieira
Pois bem, Lúcia estava no seu automóvel, estacionado em frente a uma loja de material de construção, quando chegaram os três personagens dessa história. João conduzindo uma bicicleta onde levava Michael, em uma cadeirinha própria para crianças da sua idade, e Laura, sentada no espaço logo atrás do seu pai. João saltou da bicicleta e deixou-a sem apoiar em parede ou algo semelhante. Coube a Laura segurar o veículo e tentar equilibrar toda aquela circunstância enquanto João fazia compras na loja. Passados poucos minutos, Laura já era dona da situação: equilibrar a bicicleta era um desafio já ultrapassado. Partiu então a investir no desequilíbrio de Michael. Começou a inclinar a bicicleta para um lado até onde suas forças agüentavam. Michael ficou com medo e começou a gritar e logo depois, a chorar. Não adiantaram suas súplicas: Laura ainda teve tempo de repetir o gesto algumas vezes, até que Michael tentou agredir sua irmã com seu pequenino braço. Neste exato momento João sai da loja e vê a cena: Michael chorando e tentando agredir Laura. João esbravejou ordenando que Michael parasse com o choro. A tentativa do pequeno se justificar como podia recebeu um sonoro “Cala a boca”! João ainda acrescentou: “Quando chegar em casa você vai apanhar”. Laura e João subiram na bicicleta. Lúcia ainda escutou as palavras de Laura, enquanto a família se afastava: “Pai, eu não fiz nada, ele começou a me bater do nada”. O coração de Lúcia se confrangeu. Sabia que Laura e Michael eram crianças e que essas coisas sempre acontecem entre irmãos. Mas não conseguia se conformar com a injustiça. Teve ímpetos de sair correndo do carro e interpelar João e lhe contar o ocorrido. Da melhor forma possível, obviamente, para não lançar culpa em Laura, mas para tentar impedir que a injustiça se prolongasse ainda mais quando Michael chegasse em casa. Quando Lúcia quis procurar pelos três, já não mais os viu: tinham se perdido no meio dos carros estacionados no pátio do supermercado ao lado. Voltou ao seu carro e enquanto esperava uma pessoa que estava na loja, seus pensamentos bombardearam a sua cabeça. Porque em certa ocasião de sua vida, também já se sentira injustiçada. E sabia o quanto é doloroso dizer a verdade e ser desacreditada. Lembrava com nitidez o desespero sofrido para que a verdade fosse restabelecida. Conseguiu reverter a situação lutando com todas as armas éticas possíveis. Quanto mais Lúcia recordava do que havia passado, mais temia por Michael. Como poderia se defender se nem ao menos sabia se expressar perfeitamente? Que forças teria contra um pai como João? Teria ele uma mãe que o protegesse? Laura, na sua inocente infância, continuaria a mentir? E se tudo isso conspirasse, teria a vida de Michael sido marcada negativamente para sempre? A única coisa que Laura queria crer, naquele momento, era que, se Michael realmente sofresse mais injustiças, que a marca que isso lhe causasse fosse, mais tarde, trabalhada e transformada em alavanca contra a injustiça. Que aquela circunstância, e outras que certamente teriam muitas chances de ocorrer, calasse em seu coração profundamente e que ele se tornasse um porta-voz da justiça, por todo e qualquer caminho que a vida lhe fosse indicando. Porque Lúcia também tinha conhecimento de que o caminho mais fácil é pagar injustiça com injustiça, ficou ali, sentada, em uma oração silenciosa, pedindo a todos os deuses que guiassem o caminho de um menino que passou por sua vida por uns minutos apenas. Que lhe dessem sabedoria. E força e voz para que possa defender a si e a outros sem ter que jamais se dobrar ao silêncio imposto de fora para dentro.
DÉJATE CAER - Pablo Fernandez
Caminos que están unidos de apoco
domingo, 12 de setembro de 2010
PARA VOCÊ, JOSEZINHO...
Você sabe que fico aqui e que, nas horas de meu silêncio, busco beleza. Sei que não é preciso 'mudar de casa' para a encontrar. Ela está. Nas minhas navegadas encontro muitas das suas facetas. Acabo de encontrar algo que me trouxe momentos de intensa beleza. Ao mesmo tempo, saudades. De uma época em que o tempo insiste em manter viva em nossos corações, embora não haja mais espaço, nem tempo, e o que é ruim de recordar: nem os antigos amigos. Tenho certeza de que essa postagem vai lhe trazer emoções iguais às que senti. Com um beijo carinhoso e agradecendo a fiel companhia pelos campos da beleza, deixo aqui um pensamento de alguém que gostamos muito...
"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."
Clarice Lispector