quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SEMANA PAUL GÉRALDY III


EXPANSÕES
Eu gosto gosto de você!
Compreende? Eu tenho por você uma doidice...
Falo, falo nem sei o quê,
mas gosto, gosto de você.
Você ouviu bem isso que eu disse?
Você ri? Eu pareço um louco?
Mas que fazer para explicar isso direito,
para que você sinta ?.. O que eu digo é tão ôco!
Eu procuro, procuro um jeito...
Não é exato que o beijo só pode bastar.
Qualquer coisa que me afoga, entre soluços e ais,
é preciso exprimir, traduzir, explicar...
Ninguém sente senão o que soube falar.
Vive-se de palavras, nada mais.
Mas é preciso que eu consiga essas palavras, e que eu diga,
e você saiba... Mas, o quê?
Se eu soubesse falar como um poeta que sente,
diga! - diria eu mais do que
quando tomo entre as maos essa cabeça linda
e cem, mil vezes, loucamente,
digo e repito e torno a repetir ainda:
Você! Você! Você! Você!...

SEMANA PAUL GÉRALDY II

SERENIDAD

¿Qué fue lo que dijiste
cuando adiós me dijiste?
¿Que ya no nos amábamos?...Pero, sí, nos amamos.
¿Lloraste? ¿Serás siempre la que yo he conocido
desde que en nuestra vida los dos nos encontramos?
Y sé perfectamente que bien me has comprendido.
Sé más franca. Las cosas siempre están complicando,
y por ese motivo nos vemos disputando;
di, pues, que en nuestra época siempre es afectación,
y que siempre resulta ridículo y vulgar,
cuando de amantes finos muchos la quieren dar,
escribir con mayúsculas Amor y corazón;
palabras que de nada nos sirven empleamos
y que son fastidiosas,
y, además, peligrosas,
e importancia con ellas en la vida nos damos.
Mi corazón, repiten. Tu corazón también,
y nuestros corazones. Es costumbre corriente.
Y podría jurarte que de todo eso, bien
prescindir se podría, sin gran inconveniente,
y arreglarse al momento las cosas fácilmente.
¿Nuestros dos corazones? Hay tan sólo "tú y yo",
"tú y yo" no más: de raro no hemos tenido nada,
pero con las palabras siempre nos embriagamos,
y aquí, desde la tierra, dándonos cuenta vamos
de que lo real no llega nunca a la altura soñada.
Te suplico, es prudente, que los dos prescindamos
de hablar de Corazones, y que tú y yo seamos
lo que nosotros somos. Cuando los dos nos vemos
no nos turbamos mucho, pues bien nos conocemos;
ya todo no es como antes, en días de ventura;
cuando nos encontramos, no veo en ti locura;
me pasa a mí lo mismo...lo mismo. ¡Bien! ¿Y qué?
Es esto que aquí ocurre, tragedia no se ve.
¿Nos sentimos calmados?... Esto es muy natural,
es la costumbre. Estamos
ya con ella habituados, ha tiempo, bien o mal;
y cuando ambos creemos que ya no nos amamos,
cada uno se fastidia si el otro se halla ausente.
No hallamos gusto en nada. Todo es triste en redor.
Nos vemos desdichados, con aire displicente.
Pero ¿un bien no es esto ya? Pues bueno: así es mejor.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

SEMANA PAUL GÉRALDY I


FINAL

Pois bem, adeus. Nada esqueceu?... Tem tudo já?
Não temos nada mais a dizer face a face.
Pode ir...
Mas, não! Espere um pouco!
Como está chovendo!... Espere que isso passe.
Agasalhe-se bem! Está frio lá fora.
Você devia pôr um "manteau"mais pesado.
Já tem tudo o que é seu? Nada me resta agora?
As suas cartas? O retrato?...
Já que a gente se vai separar, olhe-me ainda
uns instantes... Mas sem chorar: seria idiota.
Como é horrível agora a lembrança remota
do que nós fomos numa vida antiga e linda!
Nossas vidas se confundiram totalmente...
E agora cada qual retoma o seu caminho!
E nós vamos partir, cada qual mais sozinho,
recomeçar, vagar por aí... certamente,
sofreremos também...
Mas há de vir, depois,
o esquecimento, a única cousa que perdoa.
E há de haver eu e haver você; seremos dois;
seremos isto: uma pessoa e outra pessoa.
Veja! Você já vai entrar no meu passado!
Havemos de nos ver na rua, casualmente...
Eu hei de olhar e de ir, sem ter atravessado...
Você irá com vestidos novos, diferentes...
E viveremos nossas vidas paralelas...
E amigos contarão a você minha história...
E eu direi de você, que foi a minha glória,
a minha força e a minha fé: "Como vai ela?"
O nosso amor...era esta cousa sem valor!...
No entanto, que loucura a dos primeiros dias!
Lembra-se bem? Que apoteose, que magia!...
Se nos amávamos!... E era isto o nosso amor!
Mesmo nós, até nós então, quando dizemos"eu te amo"!,
o que é que vale o que estamos dizendo?
É humilhante meu Deus!... Somos todos os mesmos?
Iguais aos outros, nós?...
Mas, como está chovendo!
Você não vai sair com um tempo assim...
Fique comigo!
Fique! Vamos viver, não sei,... mais conformados...
Os nossos corações, embora bem mudados,
se refaçam talvez à luz do sonho antigo...
Vamos tentar. Ser bons de novo. Que remédio!
Podem falar: a gente tem seus hábitos...
Então?
Não vá! Fique!
E retome a meu lado o seu tédio.
Eu retomo a seu lado a minha solidão.

sábado, 25 de setembro de 2010

SONETO DE ANIVERSÁRIO - Vinícius de Moraes

Passam-se horas, dias, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este meu amor de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

ANIVERSÁRIO - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO VI



O SEMPRE ABRAÇO
Não faz muito que foram descobertos, na sequidão do que antigamente foi a praia de Zumpa, no Equador. E aqui estão, a todo sol, para quem quiser vê-los: um homem e uma mulher descansam abraçados, dormindo amores, há uma eternidade.
Escavando o cemitério dos índios, uma arqueóloga encontrou este par de esqueletos de amor atados. Há oito mil anos que os amantes de Zumpa cometeram a irreverência de morrer sem se desprender, e qualquer um que se aproxime pode ver que a morte não lhe provoca a menor preocupação.
É surpreendente sua esplêndida formosura, tratando-se de ossos tão feios no meio de tão feio deserto, pura aridez e cinzentice; e mais surpreendente é sua modéstia. Estes amantes, adormecidos no vento, parecem não ter percebido que eles têm mais mistério e grandeza que as pirâmides de Teotihuacán ou o santuário de Machu Picchu ou as cataratas do Iguaçu.




quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO V


A PEQUENA MORTE
Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO IV

HISTÓRIA DO OUTRO
Você prepara o café da manhã, como todo dia.
Como todo dia, você leva seu filho até a escola.
Como todo dia.
E então, o vê. Na esquina, refletido numa poça, contra a calçada; e quase é atropelada por um caminhão.
Depois você vai para o trabalho. E o vê novamente, na janela de um botequim medonho, e o vê na multidão que a boca do metrô devora e vomita.
Ao anoitecer, seu marido passa para buscá-la. E no caminho de casa vão os dois, calados, respirando o veneno do ar, quando você torna a vê-lo no turbilhão das ruas: esse corpo, essa cara que sem palavras pergunta e chama.
E desde então você o vê com os olhos abertos, em tudo que olha, e o vê com os olhos fechados, em tudo que pensa; e o toca com seus olhos.
Este homem vem de algum lugar que não é este lugar e de algum tempo que não é este tempo. Você, mãe de, mulher de, é a única que o vê, a única que pode vê-lo.
Você já não tem mais fome de ninguém, fome de nada, mas cada vez que ele aparece e se desvanece você sente uma irremediável necessidade de rir e chorar os risos e os prantos que engoliu ao longo de tantos anos, risos perigosos, prantos proibidos, segredos escondidos em quem sabe que cantos de seus cantos.
E quando chega a noite, enquanto seu marido dorme, você vira de costas e sonha que desperta.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO III


Janela sobre uma mulher/1

Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero.


Janela sobre uma mulher/2

A outra chave não gira na porta da rua.
A outra voz, cômica, desafinada, não canta no chuveiro.
No chão do banheiro não há marcas de outros pés molhados.
Nenhum cheiro quente vem da cozinha.
Uma maçã meio comida, marcada por outros dentes, começa a apodrecer em cima da mesa.
Um cigarro meio fumado, lagarta de cinza morta, tinge a beira do cinzeiro.
Uma água suja chove dentro de mim.


Janela sobre uma mulher/3

Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir.
Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO II

Do texto anterior, NOITE/1, vejam a maravilha que compôs o poeta Joan Manuel Serrat: a linda canção Secreta Mujer, uma das que mais gosto do poeta/cantautor catalão, que é uma das faixas do CD Sombras de la China. Convenhamos: poderia sair algo diferente quando Galeano e Serrat conspiram?

SECRETA MUJER

No puedo dormir.
No puedo dormir.
Atravesada entre los párpados
tengo una mujer,
secreta mujer
tan sol y tan luna
que abre mis ojos
y me obliga a ver
mi desventura
y mi fortuna.
Y no me deja dormir
esa mujer,
esa secreta mujer.

Arránqueme, señora, las ropas.
Desnúdeme.
Arránqueme, señora, las dudas.
Desdúdeme.
Arránqueme, señora, las ropas y las dudas.
Desnúdeme.
Desdúdeme.

Secreta mujer.
Secreta mujer.
Atravesada entre mis párpados
le quiero decir,
le quiero pedir
que me deje, que se vaya.
Pero no puedo hablar
a mi pesar.
Atravesada en la garganta,
me atormenta una mujer
esa mujer,
esa secreta mujer.

Arránqueme, señora, las ropas.
Desnúdeme.
Arránqueme, señora, las dudas.
Desdúdeme.
Arránqueme, señora, las ropas y las dudas.
Desnúdeme.
Desdúdeme.




SEMANA EDUARDO GALEANO I


Passando novamente os olhos pela obra MULHERES de Eduardo Galeano, encontrei alguns tesouros que quero compartihar com vocês. Serão alguns textos. O de hoje é esse.

A NOITE/1
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

A NOITE/2
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

A NOITE/3
Eles são dois por engano. A noite corrige.

A NOITE/4
Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita,a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

JAIME SABINES

É sempre assim: quando se lê um livro pela segunda vez, ele é novo uma vez mais. Porque você não é mais o leitor de antes: muita água passou por debaixo da ponte e você lê o livro com novos olhos, novos sentimentos, outras compreensões. Estou relendo El cielo de los Leones, da mexicana Ángeles Mastretta. E numa das páginas da obra, um feliz reencontro com Jaime Sabines, um poeta dos melhores, compatriota de Ángeles. Há muito tempo que não lia algo de Sabines e então, voltei a rever alguns dos seus textos. Uma vez mais, não uma releitura, mas uma nova leitura! Entre tantos versos lindos do poeta, escolhi uns que gosto imensamente. Para saber mais sobre Ángeles Mastretta e Jaime Sabines, visite:


TU CUERPO ESTÁ A MI LADO

Tu cuerpo está a mi lado

fácil, dulce, callado.

Tu cabeza en mi pecho se arrepiente

con los ojos cerrados

y yo te miro y fumo

y acaricio tu pelo enamorado.

Esta mortal ternura con que callo

te está abrazando a ti mientras yo tengo

inmóviles mis brazos.

Miro mi cuerpo,

el muslo en que descansa tu cansancio,

tu blando seno oculto y apretado

y el bajo y suave respirar de tu vientre

sin mis labios.

Te digo a media voz

cosas que invento a cada rato

y me pongo de veras triste y solo

y te beso como si fueras tu retrato.

Tú, sin hablar,

me miras y te aprietas a mí y haces tu llanto

sin lágrimas, sin ojos, sin espanto.

Y yo vuelvo a fumar,

mientras las cosas

se ponen a escuchar lo que no hablamos.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ANJO MAU - Adélia Prado


O que desejo é o corpo
e não o beijo.
O que desejo é o corpo
e não toco.
Quando vem a dádiva
já tenho o lábio torto de irrisão.
Vai morrer, digo à boca.
Vai secar, digo à mão.
Bela como um arcanjo,
uma força de danação
quer me perder.

*A duração do dia, Adélia Prado, RJ, Editora Record, 2010.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PRIMAVERA ANTECIPADA EM MEU JARDIM

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."

Cecília Meireles







"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar
e voltar sempre inteira."
Cecília Meireles

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DESPEDIDA - Martha Medeiros

Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dorque não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,
sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável,
é uma sensação à qual
a gente se apega. Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’
propriamente dita. É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra.
A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais,
mas interessa o amor que sentíamos por ela,
aquele amor que nos justificava como seres humanos,
que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente…
E só então a gente poderá amar, de novo.

A DOR QUE DÓI MAIS - Martha Medeiros

Amiga-mais-querida-que-irmã, encontrei os textos que você queria e sobre os quais falamos hoje. Vou postá-los aqui em duas partes, ok? E o livro da Martha que estou lendo tem como título Selma e Sinatra, da Editora Objetiva. Levo esse e o da Inés Pedrosa para a nossa próxima Disneylândia...rs* Beijocas e abraçocas!


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DETALHES - Roberto Carlos

Na casa da vizinha tocava a música Detalhes, de Roberto Carlos. Comentei: no meu modo de pensar, essa é a música mais bonita que ele já fez. Perguntou-me: mas e 'Como é grande o meu amor por você', como é que fica? Disse-lhe: ah, é mesmo! Mas essa última está dentro de um contexto que tem endereço certo, não conta! (É a música que sempre canto para o nosso neto, desde o seu primeiro dia de vida). Encerrando o assunto, prometi-lhe que colocaria Detalhes no blog. Agora que estou cumprindo o prometido, acabo de encontrar um lindo vídeo que tem a participação de Mariana Ximenes. Minha homenagem aos produtores porque a beleza está em cada detalhe da produção. E como recordar é viver...pois que seja de maneira belíssima!

Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo
Em sua vida
Eu vou viver...
Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver...
Se um outro cabeludo
Aparecer na sua rua
E isto lhe trouxer
Saudades minhas
A culpa é sua...
O ronco barulhento
Do seu carro
A velha calça desbotada
Ou coisa assim
Imediatamente você vai
Lembrar de mim...
Eu sei que um outro
Deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor
Como eu falei
Mas eu duvido!
Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim
E nessa hora você vai
Lembrar de mim...
A noite envolvida
No silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura
O meu retrato
Mas da moldura não sou eu
Quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso
Mesmo assim
E tudo isso vai fazer você
Lembrar de mim...
Se alguém tocar
Seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer
Meu nome sem querer
À pessoa errada...
Pensando ter amor
Nesse momento
Desesperada você
Tenta até o fim
E até nesse momento você vai
Lembrar de mim...
Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada
Mas "quase"
Também é mais um detalhe
Um grande amor
Não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...
Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito
Muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Não, não adianta nem tentar
Me esquecer...

MICHAEL - Vera Vieira

Vamos combinar assim: a menina de sete anos chama-se Laura e o seu irmão de quatro anos chama-se Michael. O pai atende pelo nome de João. E a moça que assistia a cena que eles protagonizaram leva o nome de Lúcia.
Pois bem, Lúcia estava no seu automóvel, estacionado em frente a uma loja de material de construção, quando chegaram os três personagens dessa história. João conduzindo uma bicicleta onde levava Michael, em uma cadeirinha própria para crianças da sua idade, e Laura, sentada no espaço logo atrás do seu pai. João saltou da bicicleta e deixou-a sem apoiar em parede ou algo semelhante. Coube a Laura segurar o veículo e tentar equilibrar toda aquela circunstância enquanto João fazia compras na loja. Passados poucos minutos, Laura já era dona da situação: equilibrar a bicicleta era um desafio já ultrapassado. Partiu então a investir no desequilíbrio de Michael. Começou a inclinar a bicicleta para um lado até onde suas forças agüentavam. Michael ficou com medo e começou a gritar e logo depois, a chorar. Não adiantaram suas súplicas: Laura ainda teve tempo de repetir o gesto algumas vezes, até que Michael tentou agredir sua irmã com seu pequenino braço. Neste exato momento João sai da loja e vê a cena: Michael chorando e tentando agredir Laura. João esbravejou ordenando que Michael parasse com o choro. A tentativa do pequeno se justificar como podia recebeu um sonoro “Cala a boca”! João ainda acrescentou: “Quando chegar em casa você vai apanhar”. Laura e João subiram na bicicleta. Lúcia ainda escutou as palavras de Laura, enquanto a família se afastava: “Pai, eu não fiz nada, ele começou a me bater do nada”. O coração de Lúcia se confrangeu. Sabia que Laura e Michael eram crianças e que essas coisas sempre acontecem entre irmãos. Mas não conseguia se conformar com a injustiça. Teve ímpetos de sair correndo do carro e interpelar João e lhe contar o ocorrido. Da melhor forma possível, obviamente, para não lançar culpa em Laura, mas para tentar impedir que a injustiça se prolongasse ainda mais quando Michael chegasse em casa. Quando Lúcia quis procurar pelos três, já não mais os viu: tinham se perdido no meio dos carros estacionados no pátio do supermercado ao lado. Voltou ao seu carro e enquanto esperava uma pessoa que estava na loja, seus pensamentos bombardearam a sua cabeça. Porque em certa ocasião de sua vida, também já se sentira injustiçada. E sabia o quanto é doloroso dizer a verdade e ser desacreditada. Lembrava com nitidez o desespero sofrido para que a verdade fosse restabelecida. Conseguiu reverter a situação lutando com todas as armas éticas possíveis. Quanto mais Lúcia recordava do que havia passado, mais temia por Michael. Como poderia se defender se nem ao menos sabia se expressar perfeitamente? Que forças teria contra um pai como João? Teria ele uma mãe que o protegesse? Laura, na sua inocente infância, continuaria a mentir? E se tudo isso conspirasse, teria a vida de Michael sido marcada negativamente para sempre? A única coisa que Laura queria crer, naquele momento, era que, se Michael realmente sofresse mais injustiças, que a marca que isso lhe causasse fosse, mais tarde, trabalhada e transformada em alavanca contra a injustiça. Que aquela circunstância, e outras que certamente teriam muitas chances de ocorrer, calasse em seu coração profundamente e que ele se tornasse um porta-voz da justiça, por todo e qualquer caminho que a vida lhe fosse indicando. Porque Lúcia também tinha conhecimento de que o caminho mais fácil é pagar injustiça com injustiça, ficou ali, sentada, em uma oração silenciosa, pedindo a todos os deuses que guiassem o caminho de um menino que passou por sua vida por uns minutos apenas. Que lhe dessem sabedoria. E força e voz para que possa defender a si e a outros sem ter que jamais se dobrar ao silêncio imposto de fora para dentro.




DÉJATE CAER - Pablo Fernandez


Vivimos quizás en un mundo extraño
que no entiende de esperar,
es cierto veraz, la vida es un rato
y hay que saberla aprovechar…

Caminos que están unidos de apoco
y es loco pero es verdad,
amor que te mira directo a los ojos
y el cielo cada vez esta más lejos del mar...
Despiértate mujer que estas husmeando en el ayer
no existe un porque ni hay vuelta atrás
que pueda ayudarte a creer…
Si te acercas verás que hay un mundo detrás
de las ruinas del ayer, súbete a la cornisa
y envuelta en caricias déjate caer…

domingo, 12 de setembro de 2010

PARA VOCÊ, JOSEZINHO...

Você sabe que fico aqui e que, nas horas de meu silêncio, busco beleza. Sei que não é preciso 'mudar de casa' para a encontrar. Ela está. Nas minhas navegadas encontro muitas das suas facetas. Acabo de encontrar algo que me trouxe momentos de intensa beleza. Ao mesmo tempo, saudades. De uma época em que o tempo insiste em manter viva em nossos corações, embora não haja mais espaço, nem tempo, e o que é ruim de recordar: nem os antigos amigos. Tenho certeza de que essa postagem vai lhe trazer emoções iguais às que senti. Com um beijo carinhoso e agradecendo a fiel companhia pelos campos da beleza, deixo aqui um pensamento de alguém que gostamos muito...

"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."

Clarice Lispector


sábado, 11 de setembro de 2010

STAND BY ME - Shayne Ward



Nothing's impossible
Nothing's unreachable
When I am weary
You make me stronger
This love is beautiful
So unforgettable
I feel no winter cold
When we're together
When we're together
Will you stand by me?
Hold on and never let me go
Will you stand by me?
With you I know I belong
When the story gets told
When day turns into night
I look into your eyes
I see my future now
All the world and its wonder
This love wont fade away
And through the hardest days
I'll never question us
You are the reason
My only reason
Will you stand by me?
Hold on and never let me go
Will you stand by me?
With you I know I belong
When the story gets told
I am blessed to find what I need
In a world loosing hope
You're my only believe
You make things right
Every time after time
Will you stand by me?
(Stand, stand by me)
Hold on and never let me go
Will you stand by me?
(Stand, stand by me)
Will I be your part of life
When the story gets told?
Stand by me
(Darling, I want you just stand by me)
Stand by me
(Darling, I want you just stand by me)
Won't you stand?
(Darling, I want you just stand by me)
Stand by me
(Darling, I want you just stand by me)
Stand by me
(Darling, I want you just stand by me)
(Darling, I want you just stand by me)
(Darling, I want you just stand by me)
Stand by me
(Darling, I want you just stand by me)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VENTUROSA DE SONHAR-TE - Cecília Meireles

Foto Marciano 13

Venturosa de sonhar-te,
à minha sombra me deito.
(Teu rosto, por toda parte,
mas, amor, só no meu peito!)
–Barqueiro, que céu tão leve!
Barqueiro, que mar parado!
Barqueiro, que enigma breve,
o sonho de ter amado!
Em barca de nuvem sigo:
e o que vou pagando ao vento
para levar-te comigo
é suspiro e pensamento.
–Barqueiro, que doce instante!
Barqueiro, que instante imenso,
não do amado nem do amante:
mas de amar o amor que penso!