sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SEMANA EDUARDO GALEANO VI



O SEMPRE ABRAÇO
Não faz muito que foram descobertos, na sequidão do que antigamente foi a praia de Zumpa, no Equador. E aqui estão, a todo sol, para quem quiser vê-los: um homem e uma mulher descansam abraçados, dormindo amores, há uma eternidade.
Escavando o cemitério dos índios, uma arqueóloga encontrou este par de esqueletos de amor atados. Há oito mil anos que os amantes de Zumpa cometeram a irreverência de morrer sem se desprender, e qualquer um que se aproxime pode ver que a morte não lhe provoca a menor preocupação.
É surpreendente sua esplêndida formosura, tratando-se de ossos tão feios no meio de tão feio deserto, pura aridez e cinzentice; e mais surpreendente é sua modéstia. Estes amantes, adormecidos no vento, parecem não ter percebido que eles têm mais mistério e grandeza que as pirâmides de Teotihuacán ou o santuário de Machu Picchu ou as cataratas do Iguaçu.




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