sábado, 31 de dezembro de 2011

SONHO - SOLANGE RECH

Feliz 2012 a todos!

Bons sonhos!

Aprazível realidade!

Há braços!


Quero sonhar meu sonho pessoalmente,
Sem dar procuração, sem ter preposto.
Sabê-lo crível já me põe contente,
Sabê-lo real já me ilumina o rosto.

Todo humano, por menos que aparente,
Cultiva sonho oculto ou sonho exposto.
É o sonho que empurra e impele a gente
A ver a vida com encanto e gosto.

Só abre mão do sonho a alma falida.
Meu sonho é meu calor, é minha lenha,
Combustível que aquece a minha vida.

Ao corpo e à mente um equilíbrio imponho
E, para que a igualdade se mantenha,
Eu, pessoalmente, vou sonhar meu sonho.


Solange Rech, Sacerdócio Poético, Editograf, 2004, pág. 145



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

RECEITA DE ANO NOVO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

PROJETO 4 CANTOS - BATE O SINO

Antes tarde do que nunca. Baseada nesse ditado e na certeza do que é belo sempre encontra espaço e tempo, segue esse vídeo que reputo como um dos mais bonitos que já vi. Há braços!






MODO DE AMAR - Astrid Cabral


Amor como tremor de terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.


De Déu em Déu, Editora Sette Letras, 1998 - RJ, Brasil



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PÔR-DO-SOL - SOLANGE RECH


Aquele pôr-do-sol que nós dois vimos,
Embora igual a tantos, tinha um jeito
Todo especial, pois parecia feito
De amor e de paixão, cesto de mimos.

O sol, descendo, coloria os cimos
E tudo era bonito e tão perfeito
Que instalamos na grama nosso leito
E só tarde da noite nós partimos.

Agora estamos juntos e felizes,
Alicerçando essa vivência adulta
Nas carícias, pois é preciso tê-las.

E tu, lembrando aquela vez, me dizes:
- No nosso amor o sol, quando se oculta,
É para nos deixar ver as estrelas.



Solange Rech, Serões na Rede, Editograf, 2002, p. 47.



sábado, 24 de dezembro de 2011

MEU NATAL - SOLANGE RECH


O Menino nasceu pobre.
Bastava-lhe ser humano, sensível,
valorizar a vida e o amor.

Tudo era para ser simples assim:
ele nos encantaria com a honestidade
e nos convenceria de que a vida,
em vez de uma equação complexa,
é apenas a fruição alegre dos dias.

Tudo era para ser simples assim:
nós o acolheríamos como símbolo do bem.

Mas, sobre os ombros do Menino,
plantaram pilares de divindade,
alicerces de religião,
segmentos de dogmas e mordaças.

E o Menino se curvou, impotente,
aniquilado pela carga descomunal das imposturas,
mais pesada que a própria cruz.

Ah, Menino! Pudesses tu nascer de novo,
simples, humilde e honesto,
como era do teu destino ...

Transformado na fonte imorredoura da verdade,
tu te libertarias da solidão dos sacrários
e habitarias definitivamente - aí sim ! -
a alma irmã dos seres que te buscam.


Solange Rech, Sacerdócio Poético, Florianópolis, Editograf, 2004, p. 64.