quarta-feira, 30 de setembro de 2009

INVERNO E PRIMAVERA por Maria Hilda de Jesus Alão


Hoje, ao telefone, depois de assuntos triviais, José Roberto perguntou: Onde está? E eu, aceitando a brincadeira, respondi: Estou aqui! Ele: Onde está a primavera que você apregoou no seu blog? Rimos um pouco e eu disse que logo daria a resposta. Encontrei algo que não responde totalmente mas aquece um pouco o coração neste dia de muito frio curitibano. Penso que esse inverno está mais apaixonado do que jamais esteve pois...não quer largar da primavera por nada!...rs* E Vera por Vera, também sou prima de alguém...portanto...trago um pouco dessa estação multicolorida em mim...rs*

O Inverno e a Primavera

O senhor Inverno estava feliz.
Dias gelados, muita neve, chuva e muito vento.
Ele, lá do alto, olhava para a Terra
e admirava as pessoas vestidas com grossos casacos,
tremendo de frio, andando apressadas
para chegarem às suas casas
e se aquecerem ao calor do fogo.
Os bichos não saíam de suas tocas.
Dava, até, para ouvir o ronco do urso
no seu longo sono de inverno.
As árvores, sem a roupagem de folhas,
pareciam esqueletos balançando ao vento.
O céu era cinzento, o azul estava escondido
pelas grossas nuvens.
O sol batalhava para aparecer,
mesmo que fosse por uma brechinha
entre as pesadas nuvens.
O senhor Inverno passeava pela Terra
fiscalizando o seu trabalho.
Não tendo moradia certa,
ele passa um tempo num continente
e outro tempo em outro. É assim que ele vive.
Um dia, depois de gelar tudo, ele foi descansar.
Adormeceu. Quando acordou e olhou para baixo
não acreditou no que via.
O sol estava no meio do céu azul
sorrindo e aquecendo tudo,
as flores coloridas e viçosas estavam por todo lado.
As árvores vestiam roupa nova
de folhas tenras de um verde-dourado.
Os animais viviam seus romances de amor
para perpetuar a espécie.
Os humanos substituíram as grossas roupas
por outras mais leves.
As crianças, nos parques, escolas e quintais,
brincavam e cantavam modinhas infantis
batendo os pés e palmas para ritmar.
-Oh! Quem ousou fazer semelhante estrago!
–vociferou, lançando uma rajada de vento gelado,
o senhor Inverno.
E procurou com seus olhos de gelo. Encontrou.
Era a deusa Primavera.
Ele queria reclamar, advertir,
dizer a ela que não podia ir chegando e
invadindo o seu espaço sem pedir licença.
Quando ia abrir a sua bocarra gelada,
a jovial Primavera desfez o nó de um lenço
que tinha no seu regaço, e dele saíram
milhões de borboletas coloridas.
A moça Primavera, no seu vestido branco vaporoso,
cantava e dançava a sinfonia da vida.
O senhor Inverno ficou apaixonado.
A Primavera, percebendo o sentimento do Inverno,
disse a ele que era impossível,
embora ela se sentisse atraída por ele:
“Eu sou só alegria, calor e vida,
você é só frio e tristeza” –disse ela.
O Inverno nada disse, sabia que ela tinha razão.
Agradecida pelo amor do senhor Inverno,
ela lhe deu uma semente com a recomendação:
“plante no gelo esta semente
e quando nascer a flor branquinha
saberá que estou pensando em você”.
E lá se foi o senhor Inverno
para um outro continente
deixando a sua amada reinando absoluta.

PESCANDO ESTRELAS/À DERIVA/SUAVE BRISA, ENTRE OUTRAS PESCARIAS por Vera Vieira



O dia tinha sido pesado demais. Sozinha em casa sem ter com quem conversar, lembrou que seriam só uns cliques e poderia soltar seus bichos reais na virtualidade socorrista de um bate-papo pela internet. Clicou ali, clicou aqui e acolá, e de repente, observou um nick que lhe chamou a atenção: Pescando estrelas. Resolveu pousar ali. Mas manteve o critério adotado desde o princípio: jamais interpelar alguém. E ficou ouvindo as músicas que eram colocadas pelos DJs daquela sala. Com surpresa percebeu que, ainda quando uma delas era executada, o nick citado decidiu colar uma outra música e então... eram duas canções a tocar! Lembrou-se da brincadeira entre DJs internautas quando pensou: ainda bem que tenho dois ouvidos! Mas nem todos encararam dessa forma. Muitos reclamaram com veemência e outros até com grosserias. Ficou observando a reação do grupo: um pouco de alvoroço, todos se calaram e o nick ‘transgressor’ sequer deu uma resposta, nem nessa ocasião e muito menos nos outros ‘atropelamentos’ seguintes que causou. E as músicas que ele ‘colava’ eram de primeira! Muitas orquestradas, muitas latinas, muitas românticas, todas suaves.

Os sites como já disse tem apenas músicas, preferencialmente suaves e românticas, músicas "velhas" para velhos ouvir e relembrar e é claro são para serem colocadas em salas de mais de 50 senão, corre o perigo de sair apedrejado. Eu, como as escolhi para mim (passo dos 60) gosto de todas mas cada qual delas tem um momento em que é mais deliciosa de escutar, porque a música deve combinar com o estado de espírito para ser agradável de se ouvir. Mas é impossível que todas as pessoas estejam com o mesmo estado de espírito ao mesmo tempo, então também é impossível agradar simultaneamente a todos, não se acanhe: aquele clik em stop e pronto.

Ela terminou, por fim, ignorando todos os DJs e ficou ouvindo apenas o gosto musical de Pescando estrelas. No embalo dos humores da sala e das músicas escolhidas, ela passou um bom tempo ali, calada. Foi o tempo e o espaço suficientes para que suas feras reais fossem domadas. Quando precisou sair, achou de bom tom agradecer as ‘midis’ colocadas por aquela pessoa. Foi o que fez, de maneira gentil e educada, sem ser invasora. Nada recebeu como resposta. Saiu. Em muitas outras vezes, um repeteco da primeira vez. Mas então quando entrava, arriscava um Boa noite, senhor!, cujo nick, a cada vez, pescava coisas distintas: solidariedade, sorrisos, girassóis, nuvens, marolas, entre outras. E ao sair, outra vez arriscava um Boa noite, senhor!, agradecendo as músicas ouvidas.

Depois de muito girar, mesmo sem nada ou muito pouco saber, quis aprender a colocar músicas em salas de bate-papo. Inicialmente entrei e não consegui me comunicar com o festival de besteiras. Pretendi ser amigo, ser educado, ser gentil, em suma, pretendi ser eu a conversar com alguém semelhante. Fui abordado de todas as formas imagináveis desde a garotinha de 16 anos que quer uma relação virtual com um "velho" (mesmo estando numa sala para mais de 50) até as "depravadas senhoras" que no reservado cheias de "entusiasmo virtual" pretendem agarrar virtualmente algum sonho que já escoou. Sem contar com sexos alternativos que nada me dizem. Assim encontrei-me "tropicando" justamente no lugar que seria mais propício para "minha juventude avançada", coisa que não tinha acontecido mundo afora como receber alguns desaforos nada reprisáveis aqui, que inicialmente quase me tiraram do sério e os respondi, mas logo percebi que era entrar no jogo de quem na SUA ESCURIDÃO, pretende chamar a atenção provocando com insultos quem não deseja discutir nem brigar com ninguém.


Um belo dia, a pessoa por detrás do nick resolveu ser mais generosa e respondeu ao seu cumprimento. E no momento seguinte, colou uma música ‘reservadamente’ para ela. Esse foi a única abertura, o único contato que essa pessoa ofereceu a ela.

Mesmo não conversando com as pessoas, algumas passaram a identificar o Desligado e a me cumprimentar e, melhor ainda, passaram a não se incomodar com esse meu modo de não responder e não mais se incomodam por "não lhes fazer caso". A minha resposta, às vezes, enviando uma música no reservado mesmo sem trocar uma palavra tem sido resposta ao cumprimento.

Ela, por sua vez, voltou sempre que foi possível para ouvir as canções de Pescando estrelas, até que precisou se afastar de computadores. Perdeu-se o ‘contato’ por muito tempo. Quando ela retornou, não encontrou mais o nick. Lamentou mas já sabia, pelos longos anos de experiência, que aquilo ali funcionava assim mesmo: a gente se encontra e desencontra com a mesma facilidade. Muito tempo passou e, numa outra tarde em que buscava com quem conversar, aterrisou numa sala onde lia os diálogos gostosos e bem-humorados de algumas mulheres. Como foi bem recepcionada, por ali foi ficando. Até que... apareceu um nick e, como um rolo compressor, foi atropelando todas as músicas. Curiosa, perguntou sobre ele para uma das amigas e ela lhe informou que era um senhor que não respeitava a fila dos DJs e que era costume todos bloquearem-no para não haver confusão com as midis. Disse-lhe ainda que antes ele usava o nick Pescando alguma coisa e atualmente passara a usar Desligado. Mas que era uma pena porque ele tinha um excelente gosto musical.


Foi assim que optei por DESLIGAR-ME. Sendo Desligado posso eximir-me de respostas a qualquer tipo de provocação, posso deixar de dizer bom dia, boa tarde, boa noite e posso deixar de atender às atenções que muitas e excelentes pessoas me dispensam sem que elas levem em conta o "meu descaso" já que como Desligado posso me eximir de responsabilidades. Não que eu seja uma pessoa desligada, nem descuidada, nem desrespeitosa com quem quer que seja; procuro e tento atender com amizade e carinho toda e qualquer pessoa que quer meu apoio, meu conselho, minha ajuda; é claro, desde que esteja dentro das minhas possibilidades. Dificilmente terei uma resposta agressiva para ninguém, mas poderei ter uma resposta sarcástica, um método de desabafar sem agredir. Mas essa ofensa inútil chateia a quem a escuta e não resolve o problema de quem a disse. Conheço todos os xingos do mundo como qualquer um de vocês, no entanto, prefiro usar o silêncio ou o elogio. Se não puder, ME DESLIGO.

Como ela também colava midis, precisou bloquear muitas vezes o Desligado. Outras vezes nem colava para poder ouvir um pouco o DJ Desligado. Mais uma vez, por quase dois anos, a vida deu uma puxadinha no seu tapete e ela se afastou da internet.

Não tinha dado meu e-mail a ninguém porque se minha caixa ficar vazia quem vai sentir a sensação de vazio sou eu e se acontecer de encher a ponto de não conseguir responder a todos, a sensação de desinteresse vai ser sua, se não atentar para meu NICK. Ligue-se em que com resposta ou sem ela, estou ligado em você.

Ao voltar e reencontrar as amigas daquela sala, soube, com profundo pesar, que o Senhor Pescando/Desligado havia falecido. Bloqueios à parte, todos estavam entristecidos e sentiam falta do seu jeito e de suas midis. Ela soube também que havia amigos que o homenageavam colando as músicas preferidas dele.

...acho que tenho "colecionado" uma porção de amizades das quais muito me orgulho, pois são amizades silenciosas nascidas do ouvido e do coração, são nicks que eu considero como nomes e são pessoas tão reais que eu não sinto nada de virtual no "nosso" relacionamento...
Elas me são conhecidas sem nunca as ter visto e eu sinto sua presença e sua ausência, sinto seu humor, sinto seu ânimo, sinto a sala murcha, a sala animada, a sala alegre vibrante, sinto seus reservados fervilhantes de novidades de fuxicos mesmo não participando, percebo o entra e sai, a ansiedade de alguém esperando alguém, sinto a decepção, a bronca, os namoros apaixonados cheios de música romântica de mãos dadas teclando em conjunto, também sinto os fracassos e as reaproximações. Como este mundo pode ser chamado de mundo virtual? Ele é (no meu conceito) tão real ou mais real que o cara-a-cara que vivemos que é tão falso como este, se não for mais, tão cheio de emoções e de sinceridades quanto o olho-no-olho, cheio de rancores e de sentimentos puros, cheio de amor e de ciúmes, enfim cheio de vida. A máquina que nos comunica é apenas um meio de transporte mas as emoções continuam sendo nossas. Peço aos amigos(as) desculpas pelas falhas do Desligado, mesmo tendo certeza de que ele não irá corrigir-se nem corrigi-las, está tão acomodado no seu nick, que se desliga de tudo e de todos, só não se desliga de você.

Conversando com uma das amigas da sala, soube que o amigo comum tinha um site de midis onde colocou alguns dos seus pensamentos e comentários sobre sua participação como internauta. Ela foi lá e, embora tardiamente, compreendeu quem era essa pessoa. Esse relato é uma deferência que ela resolveu fazer, agradecendo em forma de homenagem, a passagem rápida dessa pessoa na sua vida. Talvez nunca venha a saber mas ele foi importante para ela porque somente usufruir da sua escolha musical ajudou-a em algum ponto determinado, em alguma situação específica. Embora seu nick preferido fosse Pescando à deriva, acredito que o senhor está situado em algum lugar bem mais bonito do que todas as imagens que criou. E que todas as suaves brisas que o senhor pescou, sejam portadoras do nosso carinho e saudade. Grata, senhor Pescando estrelas! Que o senhor esteja nos braços de uma delas, pleno de luz.


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Amiga SÓ VIM...:esse texto também é em sua homenagem! Beijocas!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PRIMAVERA por Cecília Meireles

PRIMAVERA

Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.


AMAR-ELO! por Vera Vieira



Existe uma estrelinha chamada Intrometida, grudadinha na constelação do Cruzeiro do Sul, representando o estado do Espírito Santo. É a menor da constelação e muitas pessoas, mesmo com maior esforço, não conseguem visualizá-la a olho nu. Desde meus onze anos eu faço dela a minha confidente. É ela – e tão-somente ela – que sabe tudo de mim. Muitas vezes desejei, assim como na prece de Vinícius na canção Primavera, que ela descesse à Terra. Sempre estamos muito ligadinhas: eu a busco em todos os céus por onde vou. Mas nunca me senti tão próxima dela, tanto física quanto emocionalmente, quando vencendo toda a timidez, pedi a um cientista de um observatório da cidade de Vicuña no Chile, para que repousasse o telescópio por uns segundos na “minha estrelinha”. Depois de me responder que, entre tantos astros mais importantes, ele estava surpreso – eu diria que estava chateado – de eu me interessar por uma estrelinha sem valor e, atendendo a um pedido de outro turista para que ele acedesse ao meu desejo, ele manuseou o aparelho por uns minutos e me disse: – Pronto, aqui está a sua estrelinha querida. Será que você gosta dela porque a sua cor tende para o amarelo? Nem preciso descrever a profunda emoção que tomou conta de mim, enchendo meu peito de calor e meus olhos de lágrimas que.... quase fiquei impossibilitada de enxergá-la! Passada a comoção, lá estava ela, brilhando lindamente, piscando com olhares docemente cúmplices. Enfim, na imensidão daquela noite de céu do Deserto de Atacama, sempre derramado de estrelas, os astros cortando os céus a todo momento, todos fizeram fila para dar uma espiadinha na minha Intrometida. Confesso que fiquei com ciúmes! Porque somos uma da outra desde sempre!...rs* Saí daquele local me sentindo muito bem e feliz: deixei a timidez de lado, ganhei em emoção e ainda descobri que a minha Intrometida pisca em amarelo! Tudo isso me fez lembrar que é nas pequenas coisas, nas menores embalagens, que estão, muitas vezes, o melhor presente. E que é importante estar atento a essas pequenas coisas porque elas podem fazer a diferença. Por muito tempo não sabia decidir quem veio antes: meu gosto pela cor ou pela estrela. Agora eu sei que entre nós há um link que nos liga para sempre e está descrita dessa forma: AMAR-ELO!

Estrelas na constelação Crux
α Cru: Acrux (Estrela de Magalhães), de magnitude 0,76 e classe espectral B1.
β Cru: Mimosa, magnitude variável e também classe espectral B1.
γ Cru: Gacrux (Rubídea), magnitude 1,61 e classe espectral M4.
δ Cru: Pálida, magnitude 3,08 e classe espectral B3.
ε Cru: Intrometida, magnitude 3,59 e classe espectral K2.

Na bandeira do Brasil, Acrux representa São Paulo, Mimosa o Rio de Janeiro, Gacrux a Bahia, Pálida Minas Gerais e Intrometida o Espírito Santo.


Para minha estrelinha INTROMETIDA...por Vera Vieira

Foto Vera Vieira
Primavera
Vinicius de Moraes

O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade

É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde

Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para não morrer

Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade

É que o meu amor é tanto
Um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade

Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah, quem me dera eu pudesse ser
A tua primavera
E depois morrer


domingo, 27 de setembro de 2009

Celebrando todas as primaveras!

Foto Vera Vieira

“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?”

Gibran Khalil Gibran

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

PARA VOCÊ, THE!

Minha amiga mais que irmã, que tanto me emocionou com seu texto do dia 24.09.09...eu te amo! Fui buscar alguma coisa pra você, para o seu coração gentil. Espero que goste. Beijos!



Foto Vera Vieira


Noite De Paz
(Dolores Duran)

Dá-me, Senhor
Uma noite sem pensar
Dá-me Senhor
Uma noite bem comum
Uma só noite em que eu possa descansar
Sem esperança e sem sonho nenhum

Por uma só noite assim posso trocar
O que eu tiver de mais puro e mais sincero
Uma só noite de paz pra não lembrar
Que eu não devia esperar e ainda espero.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Brincando de criar...por Vera Vieira







SE por Alice Ruiz


se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ALÔ! por Vera Vieira



Era nova no bairro. Numa ensolarada tarde de quarta-feira precisou ir ao banco. Decidiu deixar o carro na garagem e caminhar. Uma boa maneira de conhecer as ruas, as lojas, as proximidades de sua nova residência.

Tranqüilamente saboreando um sorvete de côco, voltou ziguezagueando pelas quadras. Ao dobrar uma delas, ouviu o som de um telefone chamando insistentemente. À medida que se aproximava, percebeu que os chamados vinham de um telefone público, localizado quase em frente a um prédio onde havia um clube não-sei-das-quantas. Resolveu atender, num daqueles impulsos aos quais estava acostumada: fazer alguma coisa diferente é sempre bom!

- Alô!
- Alô, boa tarde! Esse telefone é aquele situado em frente ao clube onde hoje tem baile?
- Senhor, deixe-me ver...Não conheço bem a região....Sim, é! Está ali o clube, passos à frente...
- E a senhora sabe se hoje vai ter baile?
- Não sei, não, senhor. Mas posso perguntar, há uma senhora ali na porta.
- Ah, por favor, se não for muito incômodo pra senhora...
- Não, senhor; o senhor espere só um momentinho que já volto com sua resposta...
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- Alô, senhor!
- Oi, minha senhora, e então?
- Olha, senhor, já está começando o baile da terceira idade. É a esse que o senhor se refere, não?
- Sim, senhora, esse mesmo.
- Pois então, senhor, coloque sua roupa mais bonita, o seu melhor perfume e venha logo dançar!
- Ah, muito obrigado. A senhora é muito gentil!
- Não por isso, senhor. Tenha uma excelente tarde!
- Uma boa tarde pra senhora também.... Espere, espere! Não desligue.....!!!
- Pois não, senhor!
- Mas...VOCÊ vai estar lá?
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E foi assim, assim foi... Depois de explicar que não, não estaria, ela era só uma transeunte conhecendo o seu novo bairro, seguiu seu caminho, sorrindo muito, agradecendo aos deuses por mais este encontro inusitado e tentando aproveitar o que ainda restava do seu sorvete.
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Acostumem-se, amigos leitores, essas são ‘coisas de Verinha’...rs*


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

DÁ UM ABRAÇO? por Trovador-PR.

Foto Vera Vieira


De repente , deu vontade de um abraço... Uma vontade de entrelaço, de proximidade ... de amizade, sei lá !

Talvez um aconchego amigo e meigo, que enfatize a vida e amenize as dores ...
Que fale sobre os amores, seja afetuoso e ao mesmo tempo forte ...

Deu vontade de poder ter saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo e preencha todo o espaço.

Mas que faça lembrar do carinho, que surge devagarinho, na magia da união dos corpos, das auras, sei lá!
Lembrar do calor das mãos, acariciando as costas, a dizerem : - Estou aqui !

Lembrar do enlaçar dos braços, envolventes e seguros, afirmando : - Estou com você !
Lembrar da transfusão de força, ou até da suavidade do momento, sei lá.

Então, pensei em como chamar esse abraço: abraço poesia, abraço força, abraço união, abraço suavidade, abraço consolo e compreensão, abraço segurança e justiça, abraço verdade, abraço cumplicidade ?

Mas o que importa é a magia desse abraço, a fusão de energias que harmoniza, integra o todo e se traduz no cosmos, no tempo e no espaço...

Só sei que agora, deu vontade desse abraço: um abraço que desate os nós, transformando-os em envolventes laços... Que sirva de "colo", afastando toda e qualquer angústia... Que desperte a lágrima de alegria e acalme o coração... Um abraço que traduza a amizade, o amor e a emoção.
E para um abraço assim, só consegui pensar em você .
Nessa sua energia, nessa sua sensibilidade, que sabe entender o porquê dessa minha vontade.

APENAS FOTOS por Vera Vieira



















quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E SE...? por Vera Vieira



Acabo de ler a notícia de que um cartão postal foi entregue 72 anos depois de haver sido postado. De um noivo francês à sua noiva. Estava escrito no cartão, com imagens de montanhas, apenas isso: Boas lembranças. E estava assinado: J.A Achierdi. O correio francês, depois de explicar que o cartão deve ter caído atrás de algum móvel e por lá ter ficado durante décadas, entregou-o à família de Fernande Robéri, morta há já 40 anos.

Fernande casou-se com outra pessoa. Coincidentemente, com um carteiro. A notícia não informa dados sobre o noivo Achierdi.

Fiquei aqui pensando em uma coisa que sempre mexeu com a minha imaginação: os caminhos que a vida nos oferece. E, como mágica, lá vem a famosa pergunta: “E se....?”

A nossa vida é um cordão onde estão alinhadas pérolas escolhidas por nós. Para cada pérola que lá está, uma outra foi descartada. Mas ao fazermos isso, temos consciência de que elegemos uma coisa em detrimento de outra. Que renunciamos a algo valioso por um outro ainda mais valioso. É um escolha deliberada e, por isso mesmo, sabemos que vamos arcar com as devidas conseqüências.

Mas e quando não nos é dado o privilégio da escolha? Quando as coisas se atropelam, quando seguem caminhos alheios à nossa vontade, quando outras pessoas ou circunstâncias fazem opções por nós?

E se o cartão de Achierdi tivesse chegado às mãos de Fernande em tempo hábil? E se essas duas simples palavras tivessem sido lidas por Fernande? Seria um código? O que continha de secreto, de único, de íntimo na expressão Boas lembranças? O que estaria nas entrelinhas, que somente os dois noivos podiam compreender? Seriam duas palavras que teriam força suficiente para mudar caminhos?

São perguntas para as quais jamais teremos respostas. Fica-se apenas no campo das especulações. Muitas vezes sinto-me impelida a brincar nesse campo. E os vôos são altos e longos...

E se eu tivesse calado no momento certo? Ou tivesse discutido à altura e não tivesse engolido tantos sapos? Se eu dissesse mais ‘sim’ e menos ‘não’? Ou o contrário? Se eu tivesse a coragem de perdoar mais do que faço normalmente? Se eu não tivesse parado de trabalhar? Se eu errasse menos nas escolhas? Se eu pensasse mais em mim e menos nos outros? Se eu não tivesse dado tanto espaço ao julgamento alheio? E se eu não fosse a senhora-pés-fincados-no-chão e voasse mais vezes? E se...? E se....?

Bem, fato é que, as perguntas são variadas mas a conclusão é uma só: a vida que tenho é essa, reflexo das minhas escolhas e rejeições. Das tramas compostas de forma involuntária que jamais saberei, também não sei calcular o impacto. Portanto, esse é meu tempo, esse o meu caminho. Afinal, não somos a tartaruguinha que carrega nas costas a sua própria casa? Resta-nos uma coisa importante que só o tempo pode nos dar: a sabedoria. Agora sabemos com mais clareza aquilo que devemos adicionar nas nossas vidas assim como sabemos expurgar as coisas que nos desagradam, sem nenhum sentimento de culpa. Aliás, que gostoso é descobrir que culpa não existe!

Talvez duas palavras - 'Boas lembranças' - trouxessem dentro delas uma bagagem tão grande e especial que teria mudado radicalmente as vidas de Achierdi e de Fernande. Como saber? Essas palavras só não ficaram voando no vento porque foram escritas. E isso me traz uma outra indagação recorrente: e os versos pensados e jamais escritos, para onde vão? E os que foram escritos e jamais chegaram ao destino certo? Ou... e se eles chegaram, hein?