segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AMAR-ELO! por Vera Vieira



Existe uma estrelinha chamada Intrometida, grudadinha na constelação do Cruzeiro do Sul, representando o estado do Espírito Santo. É a menor da constelação e muitas pessoas, mesmo com maior esforço, não conseguem visualizá-la a olho nu. Desde meus onze anos eu faço dela a minha confidente. É ela – e tão-somente ela – que sabe tudo de mim. Muitas vezes desejei, assim como na prece de Vinícius na canção Primavera, que ela descesse à Terra. Sempre estamos muito ligadinhas: eu a busco em todos os céus por onde vou. Mas nunca me senti tão próxima dela, tanto física quanto emocionalmente, quando vencendo toda a timidez, pedi a um cientista de um observatório da cidade de Vicuña no Chile, para que repousasse o telescópio por uns segundos na “minha estrelinha”. Depois de me responder que, entre tantos astros mais importantes, ele estava surpreso – eu diria que estava chateado – de eu me interessar por uma estrelinha sem valor e, atendendo a um pedido de outro turista para que ele acedesse ao meu desejo, ele manuseou o aparelho por uns minutos e me disse: – Pronto, aqui está a sua estrelinha querida. Será que você gosta dela porque a sua cor tende para o amarelo? Nem preciso descrever a profunda emoção que tomou conta de mim, enchendo meu peito de calor e meus olhos de lágrimas que.... quase fiquei impossibilitada de enxergá-la! Passada a comoção, lá estava ela, brilhando lindamente, piscando com olhares docemente cúmplices. Enfim, na imensidão daquela noite de céu do Deserto de Atacama, sempre derramado de estrelas, os astros cortando os céus a todo momento, todos fizeram fila para dar uma espiadinha na minha Intrometida. Confesso que fiquei com ciúmes! Porque somos uma da outra desde sempre!...rs* Saí daquele local me sentindo muito bem e feliz: deixei a timidez de lado, ganhei em emoção e ainda descobri que a minha Intrometida pisca em amarelo! Tudo isso me fez lembrar que é nas pequenas coisas, nas menores embalagens, que estão, muitas vezes, o melhor presente. E que é importante estar atento a essas pequenas coisas porque elas podem fazer a diferença. Por muito tempo não sabia decidir quem veio antes: meu gosto pela cor ou pela estrela. Agora eu sei que entre nós há um link que nos liga para sempre e está descrita dessa forma: AMAR-ELO!

Estrelas na constelação Crux
α Cru: Acrux (Estrela de Magalhães), de magnitude 0,76 e classe espectral B1.
β Cru: Mimosa, magnitude variável e também classe espectral B1.
γ Cru: Gacrux (Rubídea), magnitude 1,61 e classe espectral M4.
δ Cru: Pálida, magnitude 3,08 e classe espectral B3.
ε Cru: Intrometida, magnitude 3,59 e classe espectral K2.

Na bandeira do Brasil, Acrux representa São Paulo, Mimosa o Rio de Janeiro, Gacrux a Bahia, Pálida Minas Gerais e Intrometida o Espírito Santo.


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