segunda-feira, 5 de outubro de 2009

LA NEGRA por Vera Vieira



Há coisas que a gente faz sem se dar conta que, tempos depois, diante de determinado fato, pensamos: ainda bem que fiz isso! Da mesma forma que tempos atrás havia dito a mesma coisa sobre Elis Regina e Gonzaguinha, hoje digo: ainda bem que fui assistir Mercedes Sosa em 14.05.08, no Teatro Positivo. Foi minha única chance e, feliz de mim, aproveitei-a! E foi um momento muito especial em minha vida pois eu buscava ocasiões para viver mais, esquecer um pouco dos meus problemas, sair de casa um pouco, arejar os pensamentos, essas coisas das quais todos somos acometidos vez por outra. O encontro tão desejado havia tanto tempo se deu de forma maravilhosa. Mercedes nem precisava abrir a boca para falar nem para cantar. A sua figura latinoamericana em todos os sentidos já era o suficiente para que a amássemos. Não vou contar aqui sobre sua vida porque há tantas coisas dela por esse mundo de meu Deus, que seria somente uma reprise do muito que já se disse e, agora, vai se dizer, com a sua morte. Apenas quero dizer que para nós, admiradores de pessoas que se tornaram públicas e às quais aprendemos a amar e, por isso, necessitar, a ausência física de Mercedes será irreparável. É deveras marcante como pessoas que jamais saberão das nossas vidas se tornam importantes para nós, seja por um quadro inesquecível, uma imagem fotográfica de prender respiração, uns versos que nos tocam profundamente, uma jogada de classe, um filme estonteante, uma voz penetrante e inolvidável. No dia em que assisti a Mercedes, chorei como nunca havia chorado em um ambiente como aquele, um teatro considerado o maior da América Latina, onde não caberia sequer uma pessoa mais. E sabem o motivo? Porque fui pega de surpresa - eu não conhecia o programa musical para a noite - e então, ela começou a explicar sobre a amizade com Tom Jobim e que estava 'perseguindo' havia muitos anos uma canção que ela adorava e que, agora, finalmente, a vinha cantando e que tinha muito prazer em cantá-la para nós. Em seguida disse que a havia gravado metade em espanhol, metade em português. Mas que nessa noite, que a desculpássemos pelo 'portunhol', ela iria cantá-la toda em português. E apresentou a canção, dizendo...Y ella se llama Insensatez. Ao fazer soar sua voz grave e doce, cantando uma das canções que mais amo - a segunda é Dindi - não deu outra! Misturê total e lá foi Verinha, mergulhar nas suas lágrimas. O que para quem me conhece, não constitui novidade alguma. A novidade está em que agora dou-me ao conforto - talvez eu possa dizer 'dou-me ao luxo' - de poder chorar em público sem grandes constrangimentos. Toda essa situação fez desse momento, um momento único. Jamais Mercedes saberá o que promoveu em minha alma, em minha vida. Mas o que podemos fazer se há coisas na vida que se tornam bastante difíceis de ralizarmos? Hoje, porque acredito no poder que têm as almas, minha alma agradece à sua, Mercedes, por tudo o que você representou e fez em sua vida, da sua vida. E a Deus por ter dado a você essa voz maravilhosa e a disposição e coragem para torná-la pública e, mais que isso, usá-la em favor dos menos favorecidos, a maioria, em nosso continente. Siga em paz!


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