Foto: Marketamedkovas
Há muito que eu pensava que uma notícia assim, sobre a morte repentina de Michael Jackson pudesse surpreender o mundo, como de fato ocorreu nesse dia 25 de junho de 2009. É sempre de se lamentar quando um talento, seja de qualquer área de atividade humana, se vai. E, principalmente, quando esse alguém, de alguma forma, nem que seja a mais distante e mínima forma, tocou a nossa vida em algum ponto. Eu era uma adolescente quando esse menino começou a fazer sucesso com canções que até hoje embalam minhas boas recordações. E é claro que, assim como o mundo todo, segui a trajetória do menino prodígio. Fora de qualquer pretensão descabida de julgamento, em meu coração que sofre as dores do mundo, percebi que naquele ser foi engendrado um Peter Pan às avessas. Pois ninguém pula etapas de desenvolvimento de personalidade impunemente. O menino Michael teve a sua infância roubada por circunstâncias evidenciadas e comprovadas por vida familiar desregrada, cujas autoridades estavam mais preocupadas em sucesso e dinheiro do que exatamente no maior objetivo do núcleo familiar que é a felicidade dos seus membros. Talvez seus irmãos tiveram um pouco mais de chance por serem mais velhos e entenderem melhor o que se passava. Mas Michael era um menino que começou a cantar aos cinco anos. E tornou-se o sucesso do grupo familiar aos 11 anos. E depois, nem preciso lembrar daquela tsunami que devastou a vida do menino. Do menino que fincou pé na infância. De maneiras perturbadas, por suposto. Porque, de alguma maneira, ele sempre quis vivenciar a sua infância. Viver o que vive um menino livre, sem algemas nem grilhões. Por isso complicou a sua vida com temas relativos à infância: os abusos sexuais, a criação de uma Terra do Nunca, a indefinição de expor-não expor os filhos à mídia, entre outras coisas do conhecimento popular mundial. Mas também, enquanto seu dinheiro alcançou, descomplicou a vida de muitos meninos pobres, doando milhões de dólares a entidades que deles cuidavam. Mas nada disso devolveu o menino ao menino. Nem mesmo a questionada mudança de cor de pele, nem mesmo as muitas cirurgias plásticas que tinham como objetivo deixá-lo parecido com outra pessoa. Acho que essa foi a fuga extrema a que se submeteu o menino: a tentativa de mudar de corpo. Mas para tudo isso há limites e o menino excedeu, desesperadamente, a quase todos. Ainda não sabemos exatamente as causas da sua morte. Mas, para mim, isso é pouco relevante. Porque a perda é maior, abarca todos os outros acontecimentos. O que dá um pouco de conforto é saber que, finalmente, o menino se libertou. Deverá, em outros planos, fazer a felicidade de outros, com seus passos de caminhante da lua, sua voz afinadíssima, sua dança contagiante e suas peripécias de menino. Deverá fazer mover os corpos dos que o ouvem cantando Thriller, tal como o fiz ontem, seguindo o noticiário da noite. Deverá, também, num restrospecto lindo, mostrar-se em sua infância roubada, cantando suavemente, Ben, quando ainda não poderia imaginar a estrela brilhante que seria, ao passar tão rapidamente pelo céu de nossas vidas. Vai, menino Michael! Vai ser feliz! Que a única maneira que nos resta de agradecer por seu talento à nossa disposição é ficarmos, aqui, torcendo que seus filhos possam ser mais felizes do que você.
Vera..também eu escrevi sobre o menino Michael.Saudades muitas de meus pré adolescentes filhos,quando as coisas pareciam ser cor de rosa.
ResponderExcluirBJS
Thereza
Parabens pelo lindo texto e vídeo musical.
ResponderExcluirElson