Mulher da capa, dama recatada,
Senhora-pés-fincados-no-chão-duro,
Olho o teu corpo, mas não vejo nada,
Pois meu olhar se choca nesse muro.
Sei que és divina, musa, bruxa e fada
E bem por isso já não te censuro
Quando me fazes alvo da cilada
De desejar possuir-te, sem futuro.
A capa grossa, opaca, intransponível,
Qual novo cinturão de castidade,
Protege-te de mim, dos meus desejos.
Volúpia grande a minha, e é de tal nível
Que um dia, só fazendo o que te agrade,
Abrirei os cadeados com meus beijos.
Solange Rech, Versos do Tempo Quase, Editograf, Florianópolis, 2006, p. 49