sábado, 20 de agosto de 2011

VENTO NOVO - Flora Figueiredo






Estava enrolada

em teias e traças,

debaixo da escada,

lá no subsolo

da casa fechada.

Começava a tomar ares de desgraça.

Manchada do tempo,

fenecia

a esperar que um dia

alguma coisa acontecesse.

Antes que se perdesse completamente,

sentiu passar um vento cor-de-rosa.

Toda prosa, espanou a bruma,

pintou os lábios

e sem vergonha nenhuma

caprichou no recorte do decote.

A felicidade volta à praça

cheia de dengo e de graça,

com perfume novo no cangote.


*****


Amor a céu aberto, Editora Nova Fronteira, 1992 - Rio de Janeiro, Brasil.




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