terça-feira, 12 de outubro de 2010

MINHA CRIANÇA - Artur da Távola

Imagens para recordar e saudar duas crianças: a minha, nessa foto; a de Artur nas suas inspiradas palavras.


Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais. Talvez com a morte eu até regresse a ela. Os sessenta anos que dela me separam não a removem. Ela ali está, magra e tímida a me olhar e ditar comportamentos e reações.
Minha criança esteve em todos os meus filhos e aparece no meu neto Davi. Ela se refaz da morte da irmã e abre os olhos para o mundo com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma. Minha criança sente enorme saudade de pai e da mãe com quem o adulto já não conta salvo no exemplo, na saudade e numa ou outra fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a seu lado mas sem se manifestarem.
Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito. Ainda recua diante do violento embora não o tema e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências.
Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu tais a entrega e a total confiança no Mistério e na proteção de Deus.
Minha criança carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se impõe alguma expectativa. Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda. Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas. Ninguém a vê salvo eu. Ninguém a acaricia salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia e com quem converso histórias infinitas que somente a imaginação pode conceber no universo maravilhoso da fabulação.
Diariamente passeio com minha criança e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice, as canções de minha mãe e os carinhos de meu pai, levar-lhe os presentes que ganhava de meu padrinho e toda a enorme vontade de Ser que então adivinhava para a minha vida. Vida que chegou, ameaça passar, e da qual não me arrependo. Minha criança adivinhou em seus sonhos o adulto que eu queria ser.
Talvez com menos tensões mas igualzinho em meu modo de amar a vida.

CRIANÇAS!

SEM ELAS, EM QUALQUER ESTÁGIO DE NOSSAS VIDAS, AUSÊNCIA DE APRENDIZADO, DE RENOVAÇÃO. À MINHA CRIANÇA INTERIOR TÃO BEM AMADA E CUIDADA, UM BEIJINHO NESSE DIA. E ÀS TANTAS CRIANÇAS QUE AMO, DE IDADES QUE VARIAM DE 1 DIA A 90 ANOS OU MAIS...MEU ABRAÇO MAIS CARINHOSO!




ESOS LOCOS BAJITOS - Joan Manuel Serrat



A menudo los hijos se nos parecen,
Así nos dan la primera satisfacción;
Esos que se menean con nuestros gestos,
Echando mano a cuanto hay a su alrededor.

Esos locos bajitos que se incorporan
Con los ojos abiertos de par en par,
Sin respeto al horario ni a las costumbres
Y a los que, por su bien, hay que domesticar.

Niño,
Deja ya de joder con la pelota.
Que eso no se dice,
Que eso no se hace,
Que eso no se toca.

Cargan con nuestros dioses y nuestro idioma,
Nuestros rencores y nuestro porvenir.
Por eso nos parece que son de goma
Y que les bastan nuestros cuentos
Para dormir.

Nos empeñamos en dirigir sus vidas
Sin saber el oficio y sin vocación.
Les vamos trasmitiendo nuestras frustraciones
Con la leche templada
Y en cada canción.

Niño,
Deja ya de joder con la pelota.
Que eso no se dice,
Que eso no se hace,
Que eso no se toca.

Nada ni nadie puede impedir que sufran,
Que las agujas avancen en el reloj,
Que decidan por ellos, que se equivoquen,
Que crezcan y que un día
Nos digan adiós.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

PROMISE ME - Beverley Craven


You light up another cigarette

and I pour the wine

It's four o'clock in the morning

and it's starting to get light

now I'm right where I want to be

losing track of time

but I wish that it was still last night

You look like you're in another world

but I can read your mind

how can you be so far away

lying by my side

when I go away I'll miss you

and I will be thinking of you

every night and day just ...


Promise me you'll wait for me

'cos I'll be saving all my love for you

and I will be home soon

Promise me you'll wait for me

I need to know you feel the same way too

and I'll be home, I'll be home soon


When I go away I'll miss you

and I will be thinking of you

every night and day just ...


Promise me you'll wait for me

'cos I'll be saving all my love for you

and I will be home soon


Promise me you'll wait for me

I need to know you feel the same way too

and I'll be home, I'll be home soon


Promise me you'll wait for me

'cos I'll be saving all my love for you

and I will be home soon

Promise me you'll wait for me

I need to know you feel the same way too

and I'll be home, I'll be home soon.


TRAUMAS AFETIVOS

Recebo, todas as semanas, alguns textos do Momento Espírita. Esse que hoje posto aqui considero muito bonito, verdadeiro e pontual.




A mídia costuma divulgar as grandes tragédias coletivas, como enchentes e guerras.
Ela também trata com frequência de eventos ruidosos, a exemplo de assassinatos, assaltos e outros crimes violentos.
Entretanto, há um gênero de conduta discreta e bastante comum, que causa enorme número de vítimas.
Trata-se das lesões afetivas.
As relações humanas nem sempre se estabelecem com o critério desejável.
Movidas por carências ou mesmo por leviandade, as criaturas estabelecem vínculos sem grandes reflexões.
Elas se conhecem em variados ambientes, como no trabalho, em clubes, em bares ou mesmo pela internet.
Sem indagar da existência de real afinidade, permitem-se importantes intimidades.
O conhecimento da essência de alguém demanda tempo e convivência.
Ninguém se mostra como é em rápidos e reduzidos contatos.
Por conta da afoiteza em estabelecer vínculos, é comum o desespero em extingui-los.
Nesse jogo de conhecer, provar e descartar, as pessoas são tratadas como objetos.
Contudo, o ser humano sempre é merecedor de respeito.
Por mais que se apresente frágil e lamentável, em seus hábitos, trata-se de uma criatura de Deus.
A ninguém é lícito iludir o semelhante.
Por vezes, a criatura a quem se experimenta, no jogo dos sentidos, possui graves problemas íntimos.
Como enferma emocional, deveria ser alvo dos maiores cuidados.
Quem a despreza assume grave responsabilidade em face da vida.
As angústias que a vítima vivenciar, os atos que vier a praticar a partir dos maus tratos recebidos, serão debitados a quem lhes deu causa.
É muito importante refletir a respeito das expectativas que se suscita no semelhante.
Pouco importa que os costumes sociais sejam corrompidos e que condutas levianas pareçam comuns.
Cada um responde pelo que faz.
Quem lesiona afetivamente o semelhante vincula-se a ele.
Na conformidade da ordem cósmica, a consideração e a fraternidade devem reger o relacionamento humano.
Aquele que se afasta desses critérios candidata-se a importantes padecimentos.
Trata-se da vida a ministrar os ensinamentos necessários para a educação de cada Espírito.
Assim, ninguém lesa o semelhante sem se lesar também.
Quem provoca sentimentos de inferioridade e rejeição desenvolve complexos semelhantes.
Até que repare o mal que causou, não terá paz e nem plenitude.
Se forem muitas as lesões afetivas perpetradas, imenso será o esforço necessário para cicatrizá-las.
Convém refletir sobre isso, antes de iniciar e terminar relações, sem maiores critérios.
Afinal, será preciso reparar com esforço todo o prejuízo causado com leviandade.

Redação do Momento Espírita. Em 07.10.2010.

BENDITAS FOMES - Frei Betto


Benditos os que têm fome de si e mergulham fundo no âmago do ser, arrancam dissabores do paladar medíocre, farto de migalhas caídas da mesa de Narciso. E os insaciados no apetite de beber do próprio poço e devorar gorduras impregnadas nas reentrâncias da alma.
Benditas as mulheres famintas de amor, feitas de fios de renda, a tecer a vida na magia de pequenos gestos cotidianos: a cozinha limpa, o feijão catado, a cama arrumada e o vaso da janela regado de ternura. Elas conduzem a lua como um farol que, mês a mês, atrai seus corpos para rubros mares prenhes de vida.
Bendita a fome itinerante de homens ávidos de saber, curiosos quanto aos mistérios desse breve existir, e cujas mãos transmutam árvore em mesa, trigo em pão e leite em manteiga. Generosos, não precisam exibir espadas para provar que são guerreiros. Espalhada à sua volta, a sombra do aconchego aninha a família em segurança.
Benditos os que reverenciam o sol, a flor, a água e a terra, e trazem um coração ao ritmo das estações, confeiteiros de primaveras espirituais. Esses sabem encher suas taças de chuva e assar o pão no calor de amizades.
Benditos todos que se irmanam ao canto telúrico de Francisco e dançam ao ritmo alucinado dos girassóis de Van Gogh, impregnados da sabedoria búdica que não se algema à nostalgia do passado, nem se precipita na ansiedade do futuro. Eles saboreiam o presente como inestimável presente.
Benditas a manhã reinaugurando a vida após o sono; a idade esculpindo rugas carregadas de histórias; e a todos que, saciados de anos, não temem o convite irrecusável das bodas de sangue que, afinal, haverão de saciar a nossa fome de beleza.
Benditos os bem-aventurados na ânsia de ver repartido o pão da vida, sem encher a bolsa de sementes de podridão. Esses sentam-se à mesa com espírito solidário e têm direito à embriaguez do vinho que, transubstanciado, encharca o coração de alvíssaras.
Benditas as mãos que traduzem sentimentos e semeiam carícias, aplacando a fome de afeto. E os olhos repletos de luzes e as palavras floridas de beijos. E esse voraz apetite de silêncio, leve como o vôo de um pássaro.
Benditos a gula de Deus, os vulcões ativados nas entranhas, o arco-íris da pluralidade de idéias, a confraria das boas ações, os livros que nos lêem, os poemas ecoados no centro da alma, a rua deserta ao alvorecer, o bonde invisível, a vida sem medos.
Benditas a ira contra os pincéis que rasgam telas; a luxúria dos balés musicados por virtudes; a preguiça dos sinos de igrejas; a avareza de quem se guarda dos vícios; e a lenta maneira de fazer crescer plantas, cumplicidades e gente.
Benditas as fomes de transcendência, de prefigurações do eterno, de jovialidade do espírito, do bolo fatiado pelo cuidado materno, de vertigens místicas, de astros acelerados pela rotação de tantos sonhos redivivos.
Benditos os machados cientes de que seus cabos são feitos de árvore e as gaiolas abertas à liberdade; as agulhas que tecem o avesso da dessolidariedade e as facas de pontas arredondadas; a música de emoções indeléveis e os espelhos que refletem as mais saborosas oferendas da existência.
Benditas as fomes insaciáveis: de saber e de sabor; de despudor no amor; de Deus sob todos os nomes inomináveis. Fome de ócio sem culpa, de alegria interminável, de saúde e de prazer. Fome de paz. Saciada plenamente por justiça — a mais bendita das fomes, capaz de erradicar a fome maldita.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

COPLAS - Gabriela Mistral

A tudo, em minha boca,
um sabor de lágrimas se acresce;
a meu pão cotidiano, a meu canto
e até à minha prece.

Eu não tenho outro ofício,
depois do silente de amar-te,
que este ofício de lágrimas, duro,
que tu me deixaste.

Olhos apertados
de candentes lágrimas!
Boca atribulada e convulsa,
em que prece tudo se tornava!

Tenho uma vergonha
deste modo covarde de ser!
Nem vou em tua busca
nem consigo também te esquecer!

E há um romoer que me sangra
de olhar um céu
não visto por teus olhos,
de apalpar as rosas
sustentadas pela cal de teus ossos!


Trad. de Ruth Sylvia de Miranda Salles


terça-feira, 5 de outubro de 2010

CANÇÃO NA PLENITUDE - Lya Luft


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.



domingo, 3 de outubro de 2010

SEMANA PAUL GÉRALDY V



¿INTENTAS OTRA VEZ REÑIR?


¿Intentas otra vez reñir? Ya escucho
llanto y explicaciones.
Sí mucho amamos, regañamos mucho,
y así termina todo en discusiones.
Por esta sola vez quiero que calles,
mientras, yo con cariño,
sin recordar disputas y detalles
desato tu corpiño...
Lo que intentas decirme de anteman0
te digo que lo sé;
explicarte, reñir, hablar en vano,
y todo ... ¿para qué?
Cuando luego el vestido desabroche,
te sentirás mejor sin ese velo...
¡Además, sin recelos,
mucho más te querré toda la noche!
No hagas mohines. Mírame sin celos,
y desde ahora, estrechamente unidos
amémonos de veras
poniendo en ello todos los sentidos.
Ven hacia mí, que haré lo que tú quieras.
Bien sabes que nos unen fuertes lazos
que el juramento anuda.
Apura, ¡vamos!, échate en mis brazos
así... ¡toda desnuda!


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SEMANA PAUL GÉRALDY IV


DUALISMO


Explícame por qué dices "Mis rosas",

y "mi piano", y por qué frecuentemente

"Tus libros" y "tu perro", indiferente;

y di, por qué con aire placentero

me dices: "Unas cosas

voy ahora a comprar con mi dinero".


Lo mío es siempre tuyo, eso es sabido.

¿Por qué dices palabras que entre los dos han sido

y serán siempre odiosas?

"Mío y tuyo"... ¡Qué extrañas tonterías!

Si me amaras, "los libros" tú dirías,

y "el perro", y "nuestras rosas".