
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
terça-feira, 18 de outubro de 2011
EL POZO - Juana de Ibarbourou

Asiento de musgo florido
sobre el viejo brocal derruido.
Sitio que elegimos para hablar de amor,
bajo el enorme paraíso en flor.
¡Ay, pobre del agua que del fondo mira,
tal vez envidiosa, quizás dolorida!
¡Tan triste la pobre, tan muda, tan quieta
bajo esta nerviosa ramazón violeta!
—Vámonos. No quiero que el agua nos vea
cuando me acaricies. Tal vez eso sea
darle una tortura. ¿Quién la ama a ella?
—Tonta! ¡Si de noche la besa una estrella!
sábado, 15 de outubro de 2011
ARTE FINAL - Affonso Romano de Sant'Anna
Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.
O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.
Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
- quem toma uma por outra
confunde e mente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011
AVE MARIA!

A MENINA EM MIM - Maria João Brito de Souza

Dentro de mim há, todos os dias,
Uma menina muito pequenina
(falo muito a sério, não estou a sonhar!)
Com quem me dou muito bem,
Com quem gosto de brincar.
Não sei o que é vergonha
Por isso nunca dela me envergonho
Mesmo quando é travessa ou faz maldades.
É em mim que a trago, jamais se escondeu
E todos os dias, a todas as horas,
Sou muito mais Ela do que Eu.
As minhas meninas,
As que pus no mundo,
Zangam-se com ela,
Não sabem amá-la
E ela fica triste, chora e vai-se embora
Mas volta a sorrir mal se esqueçam dela…
E eu também sorrio,
Torno a inventá-la,
Dou-lhe dos meus sonhos,
Dou-lhe a minha voz
E enquanto viver não quero perdê-la
Ou desencantá-la!
Se esta simbiose vos não agradar,
Se acharem imprópria esta cumplicidade,
Ó senhores do Bom Senso e do Lugar-Comum,
Vão ter, queiram ou não, de a aceitar…
É ela quem me tece os dias,
Um a um!

terça-feira, 11 de outubro de 2011
LEVANDO OS VERSOS DE SOLANGE RECH
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
tempo de amar, e tempo de aborrecer; tempo de guerra, e tempo de paz".
(Eclesiastes 3, 1-8)
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LEVA MEUS VERSOS
Solange Rech
Leva meus versos, que nada pesam.
São carga leve, como isopor.
São luz de vela, são mãos que rezam,
Sorriem sempre, apesar da dor.
Leva meus versos, que não são nada
Perto da tralha que a gente traz.
Esses coitados não têm morada,
Pródigos filhos buscando paz.
Leva meus versos, trata-os com calma,
Pois só recebem desprezo e grito.
Vem das origens todo o seu drama
Já que nasceram de um pai aflito.
Leva meus versos, vê que me esforço
Por arranjar-lhes um lar fecundo.
Como pai deles, tenho remorso
De que se sintam párias do mundo.
Leva meus versos, guarda-os contigo.
Far-te-ão feliz nas horas tristonhas.
Nas tempestades serão abrigo
A resguardar o mundo que sonhas.
Leva meus versos e outros cantares,
tão desprezados, tão pobrezinhos.
Morrerão todos se os não levares
ou vão perder-se em ínvios caminhos.
Leva meus versos, são peregrinos
de almas sensíveis, como é a tua.
Que eles não sejam, como os meninos,
versos sem teto, versos de rua.
Leva meus versos, que nada pesam.
São carga leve, como isopor.
São luz de vela, são mãos que rezam,
sorriem sempre, apesar da dor.
SACERDÓCIO POÉTICO. Solange Rech, Editograf, Florianópolis – SC, 2004, p. 37.

domingo, 9 de outubro de 2011
A BAIXINHA DO CANTO ESCURO - LUIS CHAVES

Mamãe queria que eu fosse mulher
e que não chovesse nove meses ao ano
e que papai lhe tirasse para dançar de vez em quando.
Era porém mais provável amanhecer um dia com tetas
ou uma mudança anômala do clima
antes que don Luis a convidasse a um bolero.
Faz vários anos que minha mãe deixou de sonhar,
hoje aguarda a velhice como um último trâmite.
Essa mulher que muitas manhãs
lavou e secou os pés que mais tarde
uma única vez bailaram com ela,
todos os dias se senta na escada de sua casa
para olhar o baile vitorioso da chuva.
E para atender às minhas chamadas
cada vez menos freqüentes
já nem sequer pode se levantar
pelo peso de tanta música morta em suas pernas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011
ELEGIAS - ALFONSO CHASE

Quando dois que se amaram se separam
─ para sempre ─
algo se quebra na ordem interna
da noite.
A mão chama a luva perdida
e um hálito
pousa tibiamente na herdade
da árvore.
Quando dois se dizem adeus diante do espelho
sem tocar-se
apoiando os dedos nas sombras
a forma detém o tempo,
e na água
a luz adquire imagem de janela.
Pode ser que esta luz
em forma deslumbrante se expanda
como o mundo
e um pássaro multicolor caia desmaiado,
ferido pela sede
que penetra no instante
desses dois que alguma vez se amaram para sempre.
Quando dois que se amam ainda
─ se separam ─
algo os cobre suavemente
e uma linguagem tácita nasce
no lugar que esses dois deixaram
a recíproca tortura de esquecer-se.
Algo envelhece para sempre sobre o ar.
Possivelmente se suicide um anjo de tristeza
ao ver quando esses dois desaparecem
─ separados por passos e por beijos ─
inventando histórias e cantando,
molhados e escuros de uma chuva
que reflete o rumor de suas palavras.
Quando dois que se amaram se separam,
o verão sobe sobre as asas da noite
e uma folha, sobre o azul do céu,
abre os olhos e oculta o seu estupor
com uma conjura.
Quando dois que se amam se separam
- sem rancores ou espadas –
um fantasma encantado ganha vida
e se inclina para recolher
esses dois lábios,
desnudos para sempre de linguagens.
